Porque nos fazemos homens

Garoto, ainda, da Escola Primária, o meu pai – 1º. Sargento da Armada - tinha o salutar hábito de, ao domingo à tarde, me levar a passear a qualquer sítio do meu presumível agrado.

Curiosamente, não me levava aos navios de guerra mas, antes, ao Aeroporto da Portela, em Lisboa, ver os aviões, levantar, aterrar, com todo o fascínio que aquelas manobras já então suscitavam. Cresci a pensar naquilo e a sonhar vir a ser – quando fosse grande – Piloto da nossa Força Aérea. Porém, os bailaricos, as namoradas, o atraso nos estudos, acabou por deitar por terra tal objectivo. Ainda assim, contudo, não desisti de procurar vir a estar próximo da Aviação Militar e dos aviões, claro. E consegui. Na altura própria, com 19 anos de idade e com autorização escrita dos pais (a maioridade era então aos 21), dirigi-me ao Centro de Recrutamento da Capital e alistei-me como Voluntário para a Força Aérea. Fui aceite.

Foi então que, em Setembro de 1963, passei a Porta de Armas da Base Aérea da Ota e iniciei a minha grata experiência militar enquanto Soldado-Aluno-Recruta.

Naturalmente que tudo aquilo era novo para mim. Mas a impressão recolhida, logo de início, era deveras aliciante. Tínhamos, obviamente, de respeitar as regras a que uma Instituição Militar obriga, mas não tínhamos dificuldade em cumprir porque, afinal, tudo nos era superiormente ensinado.

Três meses depois, cumprida a Recruta, viemos passar o Natal a casa e regressámos à Base em Janeiro/64 para frequentar o Curso de Formação – Abastecimento, no meu caso – que se prolongaria por cerca de 9 meses, após os quais, os aprovados, eram dirigidos a cada uma das Unidades carenciadas dos já então Especialistas, incluindo, maioritariamente, as Bases Aéreas do Ultramar. Por qualquer tipo de escrutínio, eu não fui mobilizado, apesar de militarmente preparado. Direcionaram-me para o GDACI-Grupo de Deteção, Alerta e Conduta de Intersecção, em Monsanto-Lisboa, onde cumpri os restantes 2 anos do chamado Serviço Militar Obrigatório, findos os quais passei à “disponibilidade”, com louvor em Ordem de Serviço, registado na Caderneta Militar, perdoe-se-me a imodéstia.

Veja-se, agora, no fim de tudo, o aparente caricato da situação:

- Eu que, desde miúdo, sonhava com os aviões, ser até piloto, passei 3 anos na Força Aérea e nunca andei ali de avião, aliás, nem antes, nem durante. Só depois fiz o baptismo de vôo, mas . . . na TAP ! …

Ainda assim, há que dizer:

- Apesar da “malandrice” a que os nossos anos de adolescente quase sempre nos conduzem, estilo “sou o maior”, “as miúdas e tal”, foi na Força Aérea Portuguesa que aprendi, no fundo, a respeitar, sempre, os nossos símbolos Pátrios – especialmente a Bandeira e o Hino - a respeitar os superiores hierárquicos, a respeitar a Família, os nossos concidadãos, a ser mais adulto, mais responsável e tolerante, numa palavra, a ser Homem! . . . mas levando também em conta, para além das virtudes, igualmente as fragilidades que às vezes nos traem e caracterizam enquanto ser humano!...


Saudações Aeronáuticas!


Eduardo dos Santos Faustino – Associado Nº. 3021

Especialista de Abastecimento - 1963 / 1966 - BA 2 Ota - GDACI-Monsanto-Lisboa


22 de outubro de 2016


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